Teatrologias

10 dezembro 2007

Aluna: Mara Lucia Leal

Resumo: GT Territórios e Fronteiras
VILLAR, Fernando Pinheiro e DA COSTA, José. Operando nas fronteiras: três apontamentos sobre perspectivas metodológicas. In: CARREIRA, André et al. (org.). Metodologias de pesquisa em artes cênicas. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006, pp. 130-157.

Com esse texto, os autores pretendem realizar um resumo das reflexões e discussões realizadas no GT Territórios e Fronteiras da ABRACE, desde seu início em 1999, quando se realizou o I Congresso da Associação.
Para tanto, iniciam o texto com uma breve descrição do que seria o objetivo do GT: trabalhar na fronteira das artes cênicas com outras artes e áreas da cultura. Para abranger um objeto de estudo tão vasto os autores afirmam ser necessários uma multiplicidade de abordagens metodológicas e de estratégias transdisciplinares.
Além disso, uma grande dificuldade em delimitar uma teoria do conhecimento cênico seria a idéia materialista de cultura que não prevê a subjetividade e o devir presentes nas artes cênicas. Por isso, o topos teórico do GT tentaria fugir das duas extremidades metodológicas: a marxista e positivista, por considerar que existe uma epistemologia que daria conta de todas as interpretações e a pós-estruturalista radical por apontar para a impossibilidade de qualquer interpretação. Fugindo desses dois pólos, o GT “se movimenta em um topos pós-estruturalista que ambiciona outras epistemologias”, partindo dos estudos de Deleuze e Guattari que colocam no mesmo patamar arte, ciência e filosofia (p. 133).
Na “busca de epistemologias não fixas da cena, da ação testemunhada e do corpo em cena”, cada pesquisa deve desenvolver como forma de estratégia inicial, uma moldura conceitual e contextualização histórica e estética do evento pesquisado. Assim, o conceito é usado como uma “caixa de ferramentas” para explicar determinado fenômeno e não para determinar sua veracidade.
Para exemplificar tal estudo, os autores escolheram um tema para discussão considerado fundamental no teatro: o texto cênico. Eles comentam que os experimentos das décadas de 80 e 90, ao colocar em xeque o papel central dado ao texto dramático na história do teatro ocidental, tiveram a importância de questionar “conceitos habituais de teatro, de personagem, de trabalho de ator, da relação com espectador, do tempo, do ritmo teatral, etc.” (p. 141).
Para discutir a noção de escritura ou de escrita no teatro, eles recorrem à Anne Übersfeld, cuja base teórica é estruturalista e saussuriana. A autora vai considerar a representação teatral como texto. O texto cênico teria dois níveis: O texto verbal, que contem os códigos lingüísticos e o texto geral da representação teatral (RT).
Os autores complementam a discussão com a leitura de Patrice Pavis, que considera a escritura cênica uma metáfora, pois “mesmo que a semiologia revele certos princípios de funcionamento cênico, é claro que ainda ficamos muito longe de um alfabeto e de uma escritura no sentido tradicional” (Dicionário de Teatro, 1999:131-132). Do mesmo modo, o conceito de hipertexto utilizado por Pierre Lévy também seria uma metáfora dos processos mais amplos de comunicação em rede.
Também Jacques Derrida irá utilizar o conceito de escritura num sentido mais amplo, “como o campo do arbitrário e do instituído e não só em um sentido estrito de escrita e representação gráfica” (p.148). Assim como o termo linguagem passou a ser utilizado por uma gama de eventos também o termo escritura não é mais utilizado apenas “em um sentido estrito de escrita como representação gráfica de caráter fonológico e alfabético” (p. 148). Também os conceitos de diferimento (differance) e de rastro de Derrida são trazidos pelos autores para “compreender as dinâmicas criativas da dramaturgia, da encenação e do trabalho dos atores, no teatro contemporâneo, no interior de operações fortemente interativas (...)” e processuais (p. 151), pois esses conceitos ajudam a desconstruir as relações hierárquicas entre as diferentes partes que compõem uma determinada escritura cênica.
Ainda sobre o tema, trazem Barthes e sua conceituação do texto como um tecido, uma rede (network), um “espaço onde nenhuma linguagem domina outra, onde linguagens circulam” (Barthes, 1977: 164), já que nenhum texto é original, mas um “espaço multidimensional”, no qual essa variedade de escritos “misturam-se e chocam-se” (Op. cit.: 147).
Assim, concluem, a “escrita dramatúrgica” poderia ser entendia tanto como leitura, tradução de textos culturais anteriores como escrita do corpo e no corpo, dos sons e das imagens técnicas. (p. 154)
Ao finalizar o texto, retomam a idéia de abordagem transdisciplinar como uma chave para se debruçar sobre a arte contemporânea por permitir vários cruzamentos metodológicos. Por isso, o GT Territórios e Fronteiras abrange tantas áreas teóricas como Estudos da Performance, de Gênero, Pós-estruturalistmo, Desconstrução, Semiótica, Fenomenologia, Etnocenologia, etc.